O Voando em Moçambique é um pequeno tributo à História da Aviação em Moçambique. Grande parte dos seus arquivos desapareceram ou foram destruídos e o que deles resta, permanecem porventura silenciosos nas estantes de muitos dos seus protagonistas. A História é feita por todos aqueles que nela participaram. É a esses que aqui lançamos o nosso apelo, para que nos deixem o seu contributo real, pois de certo possuirão um espólio importante, para que a História dessa Aviação se não perca nos tempos e com ela todos os seus “heróis”. As gerações futuras de certo lhes agradecerão. Muitos desses verdadeiros heróis, ilustres aventureiros desconhecidos, souberam desafiar os perigos de toda a ordem, transportando pessoas e bens de primeira necessidade ou evacuando doentes, em condições meteorológicas adversas, quais “gloriosos malucos das máquinas voadoras”. Há que incentivar todos aqueles que ainda possuam dados e documentos que possam contribuir para que essa História se faça e se não extinga com eles, que os publiquem, ou que os cedam a organizações que para isso estejam vocacionadas. A nossa gratidão a todos aqueles que ao longo dos tempos se atreveram e tiveram a coragem de escrever as suas “estórias” e memórias sobre a sua aviação. Só assim a História da Aviação em Moçambique se fará verdadeiramente, pois nenhum trabalho deste género é suficientemente exaustivo e completo. A todos esses ilustres personagens do nosso passado recente que contra tudo e todos lutaram para que essa história se fizesse, a nossa humilde e sincera homenagem.

A eles dedicamos estas linhas.

José Vilhena e Maria Luísa Hingá

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Quem tiver fotos e/ou documentos sobre a Aviação em Moçambique e os queira ver publicados neste blogue, pode contactar-me pelo e-mail:lhinga@gmail.com

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Por motivos alheios algumas das imagens não abrem no tamanho original. Nesse caso podem selecionar “abrir imagem num novo separador” ou “Guardar imagem como…”.

29/10/06

112 - Gabinete de Planeamento do Zambeze-GPZ


Clicar para ver os artigos 138  433 439 e 788

Artigo de João M. Vidal,
a quem agradeço a colaboração.

Resumo Histórico:
O departamento do Ministério do Ultramar inicialmente designado “MHZ - Missão Hidrográfica do Zambeze”, após a decisão da construção da barragem de Cabora-Bassa (hoje em dia designada “Cahora-Bassa”) passou a ser designado “GPZ – Gabinete do Plano do Zambeze” e subdividido em duas repartições:
- Os “SREP – Serviços Regionais de Estudo e Planeamento” baseado em Tete.
- Os “SRFOCB – Serviços Regionais de Fiscalização da Obra de Cabora-Bassa” baseados no Songo.
O Departamento de Aviação estava baseado no aeródromo civil de Tete e dependia dos SREP.
Organizado nos moldes de uma Esquadra Operacional da FAP, de onde todos os pilotos eram oriundos, operava em moldes paramilitares (como uma versão Portuguesa da AirAmerica do Sudoeste Asiático)
FrotaAviões:
CR-AFU Piper PA-22-160 Tripacer c/n: 22-5703 Serviço: 1958/1975
CR-AFV Piper PA-23-160 Apache c/n: 23-1330 Serviço: 1958/1974
CR-AKT Piper PA-23-250 Aztec D c/n: 27-4026 Serviço: 1968/1974
CR-ALT Piper PA-31-310 Navajo c/n: 31-476 Serviço: 1970/1973
CR-ANV Dornier Do.28D-1 Skyservant c/n: 4024 Serviço: 1972/1973
CR-AOU Rockwell 500S Shrike Commander c/n: 3120 Serviço: 1973/1975
CR-AOV Britten-Norman BN-2A-3 Islander c/n: 624 Serviço: 1973/1975
CR-AOX Do.28D-1 Skyservant c/n: 4027 Serviço: 1973/1975
Helicópteros:
CR-AGE Agusta-Bell 47G c/n: 245 Serviço: 1958/
CR-AGF Agusta-Bell 47J Ranger c/n: 1032 Serviço: 1958/1971
CR-AHA Agusta-Bell 47J-2 Ranger c/n: 1804 Serviço: 1961/
CR-AHK Bell 47G-3 c/n: 2635 Serviço: 1961/
CR-ALV Bell 206A Jet Ranger c/n: 591 Serviço: 1970/
CR-ALX Bell 206A Jet Ranger c/n: 585 Serviço: 1970/
CR-ALZ Bell 206A Jet Ranger c/n: 592 Serviço: 1970/
CR-AMA Bell 47G-4A c/n: 7733 Serviço: 1970/1974
CR-AMB Bell 47G-4A c/n: 7735 Serviço: 1970/1974
CR-ANT Bell 206B Jet Ranger c/n: ? Serviço: 1972/
CR-AOE Bell 206B Jet Ranger c/n: ? Serviço: 1972/
CR-HAK Bell 206B Jet Ranger c/n: 1098 Serviço: 1972/
CR-HAL Bell 206B Jet Ranger c/n: 1099 Serviço: 1972/
CR-HAM Bell 206B Jet Ranger c/n: 2001 Serviço: 1972/

Curiosidades:
1) Devido à antiga designação "Missão Hidrográfica do Zambeze" continuámos sempre a ser conhecidos no Distrito de Tete como os "aviões e pilotos da Missão" o que certamente nos livrou de maior hostilidade já que os verdadeiros Missionários eram conhecidamente simpatisantes da FRELIMO. Isto apesar das nossas missões serem muito pouco "católicas" (transporte de armamento, colocação de tropas etc.), ainda menos "ortodoxas" (reconhecimentos visuais à procura de bases inimigas) e os pilotos serem muito pouco apostólicos" (cooperação com a Força Aérea Rodesiana)
2) Apesar do que está escrito acima, três pilotos faleceram ao serem abatidos: Abílio Silvestre, Pedro Monteiro e Santos (o famoso "Xantos")
3) Era condição necessária para se ser admitido como piloto do GPZ ter-se já cumprido uma comissão de serviço como piloto militar. Para que os salários fossem competitivos com os praticados na aviação civil, ingressava-se com o equivalente a uma graduação em capitão, podendo atingir-se o nível de pagamento de tenente-coronel (piloto chefe). Isto gerou diversos conflitos pois alguns pilotos milicianos do AB.7, quando escalados para missões mais “cabeludas”, passaram sistematicamente a dizer: “mandem os tipos do GPZ que ganham bem!” principalmente quando começaram a aparecer os “Strella” na região.
4) Devido à sua confidencialidade, a actividade do Departamento de Aviação do GPZ é certamente uma das menos conhecidas de toda a aviação Portuguesa. Talvez esteja na hora de começar a divulgar!
Durante os anos 60 até 1973 foi nosso Piloto-Chefe o Comandante Prazeres, uma pessoa agradabilíssima com um infinito senso de humor. Descrevê-lo não seria fácil e por si só valeria um livro.
Em 1973 foi promovido a Inspector, continuando sempre a voar mas sendo substituído na função de Piloto-Chefe por outro GRANDE homem: O Comandante António Silgado Dias Teixeira.
Só tenho as melhores recordações de ambos.

Se não me falha a [velha e fraca] memória, os pilotos do GPZ foram:

- Joaquim Prazeres (Fundou uma companhia de helicópteros em Portugal)
- António Silgado Teixeira (Seguiu para a AeroCondor)
- António Cunha (Seguiu para os Serviços Geográficos Cadastrais - Lourenço Marques)
- Vasco Lança (Seguiu para a TAP)
- Vítor (Quadro FAP em comissão civil. Regressou à FAP)
- Brandão
- Santa Cruz (Seguiu para a DETA)
- António "Tózé" Oliveira Marques (Seguiu para a DETA)
- Rui Salvado da Cunha
- Abílio Silvestre (Faleceu abatido em voo)
- João M. Vidal (Seguiu para a TAAG)
- João Fidalgo (Seguiu para a Emtepua)
- José Jorge "Pilotinho" Araújo
- Pedro Gaivão (Seguiu para a TAP)
- Câmara Leme Faria
- Martinho Martins (Seguiu para o DGAC/INAC)
- Pedro Monteiro (Faleceu abatido em voo)
- Santos "Xantos" (Faleceu abatido em voo)
- Licínio Canavarro Reis

Felizmente são quase todos ainda vivos e poderão lembrar-se de mais alguém de quem eu me possa ter esquecido.

9 comentários:

Pedro Silvestre Coelho disse...

Abílio Silvestre era meu tio, irmão da minha mãe, um grande piloto! Nascido em Gouveia, casou no Cartaxo e foi pai de dois filhos. Inspirou-ne toda vida e folgo ver o seu nome recordado desta forma. Parabéns pelo BLOG! Pedro Jorge Marques Silvestre da Costa Coelho

Luisa Hingá disse...

Obrigada pelo seu comentário.
Quando criei o blogue foi para não deixar esquecer os que se dedicaram à aviação em Moçambique especialmente os que lá ficaram.
A sua familia não terá fotos relacionadas com o seu tio?
Abraços

Humberto disse...

Pretendia contactar com O CMDT Pedro Gaivão , uma vez que estivémos no mesmo serviço em Moçambique e já há alguns anos que tento falar com ele e nunca consegui o seu contacto. Estive no Gabinete Plano do Zambeze como tècnico de Electrónica (Radio e instrumentos) Na DIVISÃ0 DOS SERVIÇOS AÉREOS. COMO PODER CONTATA-LO?

Unknown disse...

Vivi em Tete de 1966 a 1970. Aproveito para fazer apenas um pequeno e não muito importante reparo: o Gabinete do Plano do Zambeze teve, também, a designação de Missão de Fomento e Povoamento do Zambeze. Talvez a primeira designação tenha sido Missão Hidraulica do Zambeze, mas entre esta e GPZ, deve ter sido MFPZ.
Victoriano Nazareth.

H. Valadas Vieira disse...

A propósito do livro "O Anjo Branco" gostaria de saber se existiu no Aeroclube de Tete um Piper Tripacer com a matrícula D-CRT. Encontro a CR-AFU mas esta não. Será que foi a que deteve antes de ser matriculado em Moçambique? ou mera criação do autor?
Muito obrigado
H. Valadas Vieira

José Vilhena disse...

Em relação à sua pergunta, passo a responder:
1. D-CRT é uma matrícula que nunca existiu em Moçambique, já que todas elas se resumiram a P-Max até 1936 e a partir daí CR-Axx, CR-Bxx e CR-Hxx até à independência.
2. Se disponibilizar a página do livro em que o registo é mencionado, tentarei verificar se descubro algo pelo enquadramento.
3. Estes foram os aviões do Aeroclube de Tete:
CR-AHV OGMA Auster D5/160
CR-AIL OGMA Auster D5/160
CR-AIS OGMA Auster D5/160
CR-AKS Piper PA-32 Cherokee 300
CR-AOF Cessna 105L Aerobat
CR-AQG OGMA Auster D5/160
CR-AQH OGMA Auster D5/160
CR-AQV OGMA Auster D5/160

José Vilhena disse...

De facto, lendo as páginas 298 e 299 do livro citado, só poderá estar a referir-se ao CR-AFU da Missão do Fomento e Povoamento do Zambeze (MFPZ),único Tripacer que pertenceu aquele Serviço.

H. Valadas Vieira disse...

Muito grato pelo seu esclarecimento.
De facto pode haver aqui um erro meu ao referir apenas o Aeroclube de Tete. No livro são referidos dois aviões: o Tripacer em que usam o callsign D-C-R-T-E (Pag 298 e onde coloquei a hipótese de ser uma matrícula temporária alemã D-CRTE (mas a matrícula não condiz com o peso)) e o Cherokee 300 ao qual não se referem por matrícula, mas que deve ser o CR-AKS.
A primeira era de facto do MFPZ/GPZ e deveria ter afinal a matrícula CR-AFU pois era o único Tripacer propriedade daquela Missão.
Acontece que recebi por parte do autor JRS o seguinte comentário - «a sua observação sobre as matrículas dos aviões não pode ser verdadeira (eu referia que devia começar por CR-xxx e não DCRTE), uma vez que a matrícula apresentada no romance é retirada do avião do Serviço Médico Aéreo adquirido em 1968, pelo que teria forçosamente de existir». Este comentário parece referir-se ao Cherokee, pois foi esta a aeronave adquirida em 1968, e por isso fiquei sem saber se o tal DCRTE era um callsign qualquer ou se se refia a uma matrícula.
Voei em Tete na FAP de 1973 ao encerramento do AB7 em Out1974 e daí a minha curiosidade. Mas nada mais me move, além de mera "cusquice".

Saudações aeronáuticas
H Valadas Vieira

Antonio Sousa disse...

O piloto Joaquim Moreira de Sousa Prazeres já faleceu, não sei se em 2014 ou 2013