O Voando em Moçambique é um pequeno tributo à História da Aviação em Moçambique. Grande parte dos seus arquivos desapareceram ou foram destruídos e o que deles resta, permanecem porventura silenciosos nas estantes de muitos dos seus protagonistas. A História é feita por todos aqueles que nela participaram. É a esses que aqui lançamos o nosso apelo, para que nos deixem o seu contributo real, pois de certo possuirão um espólio importante, para que a História dessa Aviação se não perca nos tempos e com ela todos os seus “heróis”. As gerações futuras de certo lhes agradecerão. Muitos desses verdadeiros heróis, ilustres aventureiros desconhecidos, souberam desafiar os perigos de toda a ordem, transportando pessoas e bens de primeira necessidade ou evacuando doentes, em condições meteorológicas adversas, quais “gloriosos malucos das máquinas voadoras”. Há que incentivar todos aqueles que ainda possuam dados e documentos que possam contribuir para que essa História se faça e se não extinga com eles, que os publiquem, ou que os cedam a organizações que para isso estejam vocacionadas. A nossa gratidão a todos aqueles que ao longo dos tempos se atreveram e tiveram a coragem de escrever as suas “estórias” e memórias sobre a sua aviação. Só assim a História da Aviação em Moçambique se fará verdadeiramente, pois nenhum trabalho deste género é suficientemente exaustivo e completo. A todos esses ilustres personagens do nosso passado recente que contra tudo e todos lutaram para que essa história se fizesse, a nossa humilde e sincera homenagem.

A eles dedicamos estas linhas.

José Vilhena e Maria Luísa Hingá

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Quem tiver fotos e/ou documentos sobre a Aviação em Moçambique e os queira ver publicados neste blogue, pode contactar-me pelo e-mail:lhinga@gmail.com

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30/06/10

681-MEMÓRIAS PARA UM “BUSH PILOT” - MEMÓRIA DÉCIMA


Na primeira foto, o piloto Calrão. Na outra foto, o CESSNA - 185 dos TAM, com a matrícula CR - AIZ, utilizado na evacuação de um piloto do Aero - Clube da Beira vítima de um acidente de aviação no aeródromo de Inhaminga.
MEMÓRIA DÉCIMA
VOANDO EM SOCORRO DE UM COLEGA ACIDENTADO EM INHAMINGA!
Como acontecia sempre após um dia de trabalho voando nos céus de Moçambique, chegava o momento de colocar em ordem todos os “papeis” produzidos e sobretudo distribuir os serviços para o dia seguinte e que se iriam iniciar logo pela manhã, particularmente os voos com clientes chegados nas primeiras ligações da DETA, vindas de Lourenço Marques.
Sentado junto à porta voltada para a placa de estacionamento, aguardava ocioso que o Calrão, o piloto mais antigo da “casa”, terminasse todo o trabalho administrativo do dia. Nesse fim de tarde só estávamos ainda os dois no escritório.
O Sol não tardaria mais de uma hora a descer definitivamente no horizonte dando lugar à noite que se aproximava refrescando, ainda que timidamente, a elevada temperatura daquela tarde quente de verão.
Bruscamente o silêncio foi cortado pelo insistente retinir da campainha do telefone que, por inesperada, gerou uma estranha expectativa.
Era uma chamada do “despacho” do aeroporto que solicitava com a maior urgência possível um voo dos TAM, para evacuar uma vítima de um acidente de avião na pista de Inhaminga.
E acrescentava: “um avião do Aeroclube da Beira teve um acidente após a descolagem. O único ocupante, o piloto, sobreviveu com uma possível fractura na coluna dorsal, pelo que só pode ser resgatado por via aérea!
De imediato o Calrão e eu pedimos à manutenção que nos disponibilizasse uma aeronave para prosseguirmos urgentemente para Inhaminga, já que a noite se aproximava rapidamente.
Temos um problema informou o Meirinho, o sócio da manutenção dos TAM:
“O único avião disponível é o Cessna 185, o CR-AIZ, que acabou de sair de uma revisão e que não foi ainda sido sujeito ao necessário voo de confirmação”.
É claro que esta situação não constituiu impedimento para a realização do serviço solicitado, pois que consideramos a possibilidade de completar as necessárias verificações já em voo, imediatamente após a descolagem.
Após um voo de 15, minutos na área do aeroporto e satisfeitos com o comportamento da nossa máquina, prosseguimos rumo a Inhaminga, tendo como único apoio o radiofarol da Beira, cujas indicações ofereciam pouca ou quase nenhuma confiança, porque imprecisas, devido a grandes variações provocadas pelo efeito nocturno na propagação das ondas rádio.
Baseados nos únicos elementos de controle que dispúnhamos, “tempo de voo e rumo a seguir”, fomos em breve envolvidos pela escuridão de uma noite sem luar, voando por cima de uma densa floresta e com os olhos postos nos mostradores iluminados do painel de instrumentos do “cockpit”.
Estávamos em finais de Setembro já perto do início da “estação das Chuvas” que se estende de Outubro até fins de Abril.
Cumprindo um costume ancestral, os escassos camponeses que habitavam aquelas paragens, haviam já iniciado as queimadas com que limpavam os terrenos cobertos de capim e arbustos secos, preparando-os para as novas culturas.
O nosso voo teria uma duração aproximada de 45 minutos durante os quais mantínhamos contacto com o controlo do Aeroporto da Beira, utilizando comunicações de HF o que nos causava um desconforto provocado pelos ruídos parasitas e pela estática que o final do dia induzia no nosso rádio.
- “Olha ali, ao fundo … já se vêm luzes … será já Inhaminga?
Nada disso. Mais uma vez uma queimada nos atraiçoara obrigando-nos a continuar a esquadrinhar o horizonte na procura das luzes dos faróis dos automóveis no local da pista de aterragem.
É que entretanto havíamos pedido ao controle da Beira que instruísse as autoridades de Inhaminga para que fossem colocados alguns automóveis junto às bermas balizando com os faróis a faixa de aterragem.
Aproximava-se o final do tempo calculado para o voo, quando finalmente avistámos, mesmo em frente ao nosso avião, a pista onde os faróis de uma meia dúzia de automóveis mal iluminavam uma pequena porção da faixa onde iríamos pousar o nosso Cessna, numa visibilidade enfraquecida pelo fumo das queimadas nas redondezas.
Para aqueles que não conhecem aquela pista, vou tentar em poucas palavras esboçar o cenário que iríamos utilizar:
- A faixa de aterragem, encaixada numa densa floresta de árvores e arbustos, estendia-se de Norte para Sul numa largura de 30 metros por uma extensão aproximada de 700 metros. A entrada da cabeceira Norte era atravessada perpendicularmente por uma estrada de acesso a Inhaminga constituindo um autêntico degrau na aproximação à pista pelo lado Norte , como poderão aqui imaginar pela descrição do seu perfil:
- A Norte da pista, no lado direito da estrada, duas árvores erguiam-se perigosamente levantadas; seguia-se a faixa de rodagem dessa estrada, livre de impedimentos como é óbvio; sucedia-se finalmente a cabeceira constituída por uma faixa de 30 metros livre de obstáculos, e logo de imediato as marcas da pista onde normalmente tocávamos com as rodas na aterragem.
Este cenário que vos descrevi era o que observávamos todas as vezes que à luz do dia aterrávamos em Inhaminga.
Só que nessa tarde daquele mês de Setembro o Sol já desaparecera havia mais de meia hora. Deste cenário só persistia o que a nossa memória guardara e que deveríamos repetir para visualizar todos os passos que teríamos de percorrer para uma aterragem segura!
O Calrão na altura muito mais experiente que eu, iniciou a aproximação e logo após termos sobrevoado as árvores da margem Norte da estrada, pediu “full flaps” retirando simultaneamente a potência do nosso motor …
De súbito mergulhámos num túnel escuro que a tímida lâmpada do nosso farol de aterragem se negava a iluminar.
A sombra negra da floresta que nos começara a envolver aumentava perigosamente e com ela aumentava também uma terrível sensação de desconforto e insegurança …
-Borrego decidiu com determinação o meu companheiro ao mesmo tempo que aplicava a potência máxima ao motor “Continental” do nosso Cessna que roncando parecia ampliar a nossa sensação de alívio à medida que subíamos afastando-nos daquele pesadelo.
O que se passara foi de imediato apercebido. As viaturas colocadas nas bermas da pista iluminavam somente um terço do seu comprimento, não nos indicando onde ela terminava …
Depois de sobrevoar várias vezes a pista e após insistentes contactos rádio com o controlo da Beira, foi finalmente entendida a nossa dificuldade e obviada a situação, colocando-se além das viaturas iluminando a faixa de aterragem, duas outras na cabeceira Sul, voltadas no sentido da nossa aterragem, cujos “stops” traseiros, com as suas lâmpadas vermelhas acesas, nos indicavam com precisão onde ela terminava.
Depois tudo se tornou mais fácil, o que permitiu ainda um comentário do meu companheiro:
- Primavera, observava o Calrão, eu senti que tu desejavas ardentemente que aterrássemos para salvar o nosso companheiro … mas sei também que compreendeste que naquelas circunstâncias tão perigosas poderia muito bem acontecer que em vez de um, viessem a ser mais dois evacuados!
Após a aterragem (manobra de que fomos efusivamente cumprimentados dada a expectativa e o ambiente emocional existente), colocada a maca com o piloto acidentado no nosso avião, descolamos de imediato rumo à Beira onde nos aguardava uma equipa médica para o receber.
Soube mais tarde que ele sofrera uma lesão grave nas vértebras cervicais mas que havia esperanças, ainda que ténues de recuperação … depois tudo se perdeu no tempo!
Só ficaram as lembranças dessa tarde em que um jovem piloto, vítima da sua pouca experiência, passou por uma série de constrangimentos (alguns chamariam sorte, outros examinariam as conjunturas imprevisíveis, tentando compreender o que se passara) que eu nunca mais poderei esquecer.
Naquele dia o nosso jovem piloto do aeroclube carregara imprudentemente na bagageira e nos bancos traseiros do pequeno “COLT”, uma série de material pesado de caminho de ferro!
Depois do almoço, transportado para a pista numa viatura particular, preparara-se para descolar num dia particularmente quente.
Os dois indivíduos que o transportaram até à pista, resolveram adiar o regresso a Inhaminga com a intenção de assistirem à descolagem do pequeno avião - é sempre interessante de se ver!
A aeronave começou a percorrer a pista e o seu trem tipo triciclo depressa lhe permitiu atingir a velocidade de descolagem, pelo que iniciou de imediato a rotação para a subida. No entanto, porque a carga estava mal estivada, o centro de gravidade deslocou-se rapidamente para a parte traseira. O piloto com o avião completamente descompensado iniciou uma luta inglória tentando passar por cima das árvores no final da pista ao mesmo tempo que procurava manter a velocidade, até que o avião entrou definitivamente em perda caindo de rodas para cima, dentro da única clareira que existia nas proximidades.
E agora observemos as circunstâncias “favoráveis” daquele acidente que, evitando trágicas consequências, permitiram que o piloto sobrevivesse:
- O avião não se incendiou. Recuperando depressa a consciência o piloto, não tendo quaisquer sensibilidade nos membros inferiores, teve o discernimento de se arrastar, à força dos seus braços intactos, para fora do avião afastando-se do cenário de um possível incêndio.
- Os dois indivíduos que o transportaram e ficaram a assistir à descolagem apercebendo-se do acidente correram a socorrê-lo tendo o cuidado de utilizarem o encosto do banco da aeronave apertando-o ao corpo do piloto antes de o retirarem do local, de modo a não ferir a medula espinal (aqui revelou-se da parte deles um conhecimento sobre primeiros socorros).
- Se aqueles dois indivíduos não tivessem a curiosidade de assistirem à descolagem, talvez só no dia seguinte seria descoberto o local do acidente e os destroços aeronave. Dos restos mortais do piloto, possivelmente, devorado pelos leopardos que abundavam na região, só restariam os pés protegidos pelos sapatos que calçava no momento.
- Finalmente, prestes a encerrar o escritório dos TAM ao fim de um dia de actividade, dois pilotos, atendendo ao pedido de ajuda emitido pelo despacho do aeroporto apressaram-se de imediato a voar em circunstâncias arriscadas (num mono motor acabado de sair de uma revisão, durante hora e meia e de noite, sobre uma região de densa floresta), para socorrer aquele jovem piloto que aguardava ansiosamente a chegada dos seus salvadores.
Nessa noite quente em que nem o ar condicionado do quarto me permitia adormecer, ia revendo os acontecimentos agitados experimentados durante o dia.
E sorri com uma imensa satisfação por ter um dia abraçado aquele tipo de vida descontraído e por vezes romântico. Senti-me nesse dia intensamente recompensado ao permitir que aquele jovem sobrevivesse para beneficiar dos recursos médicos que só um hospital lhe poderia proporcionar.
A continuação de boa disposição e saúde e até à DÉCIMA PRIMEIRA MEMÓRIA PARA UM BUSH PILOT.

O meu obrigada ao Cte. Primavera.

20/06/10

680-1º Curso de Pára-Quedismo da Mocidade Portuguesa

Foi em Lourenço Marques, com o apoio do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 31, que se realizou, entre Maio e Junho de 1971, o primeiro (a nível nacional) curso de pára-quedismo desportivo da Organização Nacional Mocidade Portuguesa.

De pé, da esquerda para a direita: Rui Cardoso; Parente de Lima; Victor Cerqueira; Lino; Carlos Abrantes; Barroca; Ilídio Martins; Rui Bragança; ?; Ribeiro Couto (Dirigente da MP) – em baixo: Cabral

Foto e texto enviados por Carlos Abrantes.

05/06/10

678-Histórias de “Quando eu Tinha Asas”, de Janico Barreto













677-Histórias de “Quando eu Tinha Asas”, de Janico Barreto










676-Histórias de “Quando eu Tinha Asas”, de Janico Barreto












675-Histórias de “Quando eu Tinha Asas” - Janico Barreto


Finalmente o livro do Cte. João (Janico) Barreto, onde na primeira pessoa conta as interessantíssimas histórias sobe a sua vida de piloto em Moçambique.Grato ao seu autor pela gentil oferta de dois exemplares aos Administradores do Voando em Moçambique.


As "estórias" da Aviação do Cte. João (Janico) Barreto, contadas na primeira pessoa, verdadeira colectânea de episódios que descrevem a vida de um dos pioneiros da aviação em Moçambique.
A História da Aviação é feita por todos aqueles que nela participaram, pois decerto possuirão um espólio importante, para que ela se não perca nos tempos e com ela todos os seus verdadeiros heróis.
As gerações futuras ficar-lhe-ão gratas. Muitos desses verdadeiros heróis, ilustres aventureiros desconhecidos, souberam desafiar os perigos de toda a ordem, transportando pessoas e bens de primeira necessidade ou evacuando doentes, em condições meteorológicas adversas, quais “gloriosos malucos das máquinas voadoras”.
Há que incentivar todos aqueles que ainda possuam dados e documentos que possam contribuir para que essa História se faça e se não extinga com eles, que os publiquem, ou que os cedam a organizações que para isso estejam vocacionadas.
A nossa gratidão a todos aqueles que ao longo dos tempos se atreveram e tiveram a coragem de escrever as suas “estórias” e memórias sobre a sua aviação.
Só assim a História da Aviação Comercial em Moçambique se fará verdadeiramente.
José Vilhena












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