Do livro de Manuel Arouca “Deixei o meu Coração em África” publicado recentemente pela Oficina do Livro (2005), um pequeno excerto que relata, com pequenas imprecisões, factos verídicos relacionados com o “Aero Clube de Moçambique”.
Manuel Arouca, nasceu em Porto Amélia a 3 de Janeiro de 1955.
Os dois.... rumaram de seguida para o Aero Clube de Moçambique (1). Era uma outra faceta do pai, - apaixonado dos aviões e sócio do Aero Clube - que Guida queria dar a conhecer a Ricardo: Gente que vivia uma realidade completamente distinta do jet set do Grémio. Nas suas patuscadas e aventuras, além do ya, chamavam aos brancos whites.
O Aero Clube encontrava-se inserido no Aeroporto Internacional. No seu cantinho, como os pilotos dos teco-tecos diziam no gozo, erguia-se um hangar com cobertura de zinco, onde, no seu interior e exterior, se espalhava um numero significativo de avionetas Piper Tripacer, Piper Comanche, Super Cubs, Austers, Cessnas, Tigers, um bimotor Twin Comanche, Chipmunks, decisivos na instrução e formação de pilotos. Os primeiros pilotos da DETA foram ali formados. A filha do Engenheiro Rui Ramos (2) mostrou com vaidade o primeiro avião do Aero Clube, um Hornet Moth com matricula CR-AAA (3). Uma ave rara. Explicou-lhe, andando em direcção ao avião do pai, que aquele Aero Clube fazia muito mais horas de voo do que todos os Aero Clubes da metrópole juntos. Fê-lo entrar num Cessna 206 pintado com cores vivas, que tinha lugar para o piloto e cinco passageiros. Aí tirou de uma pasta de couro com fivela um álbum de fotografias e recortes de jornais, onde o seu pai participava em festivais aéreos no aeródromo da cidade de Durban. Tinha como inseparável companheiro destas acrobacias loucas e vistosas o comerciante e infatigável impulsionador das actividades do Aero Clube, Rui Monteiro. Eram conhecidos pelos Ruis, os RR. E, na fotografia que se seguiu, via-se o Chipmunk do Rui Monteiro voando rente ao solo, em corrida acesa com o Cooper S de Xavier de Melo, no autódromo do Xilunguine. (4)
-Isto é único! - exclamou o meu amigo.
Mas as proezas daquele vasto número de pilotos não se ficavam por ali. Dizia Guida, subindo o entusiástico tom de voz:
- Nos Auster eles fazem a distribuição do correio. Nas cheias há populações que chegam a ficar seis meses isoladas do mundo. (5)
O que Ricardo não fazia a mínima ideia era que o voo curava a tosse convulsa (6). Tinha nas mãos umas fotografias com crianças ladeadas pelas mães, o Rui Monteiro (7) e o Rui Ramos.
- Metia dó ver aquelas crianças a tossirem cavernosamente. A todo o momento, pareciam que iam ficar sem ar.
- Não havia remédios? – interrompia o perplexo Comando.
- Ainda há bem pouco tempo, pouco ou nada faziam. Então as crianças iam nos aviões com as mães, porque muitas vezes vomitavam quando chegavam lá a cima. Também adormeciam. A primeira vez o meu pai, coitado, pensou que o miúdo tinha morrido. Depois habituaram-se. Faziam três voos, sempre a subir e a descer lentamente. O primeiro a 1.000 metros, o segundo a 2.000 metros e o ultimo a 3.000 metros. Geralmente, ao segundo, já estavam curados. Não falhava.
(1) O autor chama-lhe Aero Clube de Lourenço Marques.
(2) Eng. Rui Ramos – ficção ou realidade? Alguém que elucide se existiu de facto o Eng. Rui Ramos!
(3) Refere-se o autor certamente ao Hornet Moth CR-AAC, terceiro avião da DETA e oferecido ao Aero Clube em Junho de 1967. Não foi de facto o primeiro avião do Aero Clube de Moçambique. (ver artigo 49). O CR-AAA foi o primeiro avião da DETA e sempre pertenceu à mesma. (ver artigo 26).
(4) Refere-se ao descrito no artigo 50.
(5) Esta era uma das missões das FAV - Formações Aéreas Voluntárias (artigo 54).
(6) Voos de tosse convulsa, muito em moda nos tempos idos em Moçambique!
(7) Rui Novais Leite Monteiro – ver artigos 49, 54 e 60.
José Vilhena
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