O Voando em Moçambique é um pequeno tributo à História da Aviação em Moçambique. Grande parte dos seus arquivos desapareceram ou foram destruídos e o que deles resta, permanecem porventura silenciosos nas estantes de muitos dos seus protagonistas. A História é feita por todos aqueles que nela participaram. É a esses que aqui lançamos o nosso apelo, para que nos deixem o seu contributo real, pois de certo possuirão um espólio importante, para que a História dessa Aviação se não perca nos tempos e com ela todos os seus “heróis”. As gerações futuras de certo lhes agradecerão. Muitos desses verdadeiros heróis, ilustres aventureiros desconhecidos, souberam desafiar os perigos de toda a ordem, transportando pessoas e bens de primeira necessidade ou evacuando doentes, em condições meteorológicas adversas, quais “gloriosos malucos das máquinas voadoras”. Há que incentivar todos aqueles que ainda possuam dados e documentos que possam contribuir para que essa História se faça e se não extinga com eles, que os publiquem, ou que os cedam a organizações que para isso estejam vocacionadas. A nossa gratidão a todos aqueles que ao longo dos tempos se atreveram e tiveram a coragem de escrever as suas “estórias” e memórias sobre a sua aviação. Só assim a História da Aviação em Moçambique se fará verdadeiramente, pois nenhum trabalho deste género é suficientemente exaustivo e completo. A todos esses ilustres personagens do nosso passado recente que contra tudo e todos lutaram para que essa história se fizesse, a nossa humilde e sincera homenagem.

A eles dedicamos estas linhas.

José Vilhena e Maria Luísa Hingá

========================

Quem tiver fotos e/ou documentos sobre a Aviação em Moçambique e os queira ver publicados neste blogue, pode contactar-me pelo e-mail:lhinga@gmail.com

=======================

Por motivos alheios algumas das imagens não abrem no tamanho original. Nesse caso podem selecionar “abrir imagem num novo separador” ou “Guardar imagem como…”.

20/11/06

144 - CR-AMX - TAT- Acidente no Baué, Tete

Avião da TAT. Ver artigo 802


Fotos gentilmente cedidas por Eduardo Paulino, ex-Capitão Mil.º de Artilharia, em Moçambique.
Descrição do acidente com o Islander da TAT, (Transportes Aéreos de Tete), na pista do Baué em Junho de 1972
(34 anos e 5 meses depois)

Vínhamos numa viagem de rotina a Tete. A novidade era o piloto que fazia o primeiro voo para o Baué, onde ia aterrar pela primeira vez. Eu viajava no meio da bancada atrás da do piloto e da do capitão que viajava na cadeira ao lado do piloto. Ao meu lado esquerdo ia uma rapariga, filha da “viúva” do Baué e ao meu lado direito alguém de quem não me recordo mesmo (Homem). Atrás de nós carga bem acondicionada e lá atrás depois da carga viajavam ainda mais três militares. A descolagem de Chingódzi (Tete) e a viagem decorreram normalmente. Eu conversava animadamente com a menina a quem tinha ensinado a fechar o cinto. Lembro-me de que, por uma questão de noção de onde nos encontrávamos, a uma certa altura reparei que o piloto, a alta altitude , não notava que já estávamos passando o Baué…em direcção a Furancungo! Bati-lhe nas costas com a mão, ele olhou e eu mostrei-lhe com o dedo que lá ao fundo para a direita era o Baué!!! Ele entendeu, fez a curva descendo…e em direcção da pista. Sobrevoou-a e lembro-me de vêr lá em baixo uma outra avioneta da Força Aérea, usada para evacuações. Pensei para mim: já deve ter havido problema! Ao mesmo tempo que essa avioneta arrancava para levantar voo da pista, nós avançávamos paralelamente à pista a baixa altitude. A outra avioneta já levantara quando, o nosso piloto fêz a curva que tinha que ser de 180º!

Pensei para mim: o Craveiro (piloto com quem eu viajava normalmente e habitualmente de e para Tete) se calhar faria esta curva de mais longe do princípio da pista! O nosso piloto teve que acelerar, para levantar o nariz e aproximou-se do princípio da pista com velocidade.
Voltei a pensar para mim: tenho a impressão que deveria fazer-se mais ao centro da pista visto ele estar a fazer-se um pouco para a esquerda do meio da pista. Tocou no chão o Islander. Depois de andar uns metros houve um grande solavanco e o avião desequilibrou-se para a direita. O piloto aguentou e corrigiu fazendo o avião baixar de novo com a roda esquerda e ela de novo tocou o chão. E houve um segundo grande solavanco mais forte desta vez. O piloto sentiu, e todos nós os passageiros também, que o trem esquerdo tinha partido e tentou aguentar o avião inclinado para a direita, para diminuir a velocidade, para desligar todos os circuitos , o que fez com grande custo visível, e para que a asa esquerda não batesse logo no chão. Finalmente a asa esquerda raspou o chão, houve uns momentos que todos parece que gritámos com o que estava a acontecer! O avião deu um violento solavanco…finalmente sentimos que estava parado…a porta ao lado do piloto foi aberta e eu, que ia atrás dele, fui o primeiro a sair e a saltar para o chão, da asa, já fora !! Havia grande poeirada … passados alguns poucos minutos todos estávamos fora, menos a rapariga que aos gritos pedia que a tirassem de lá de dentro, pois não conseguia tirar o cinto. Fui eu mesmo quem se aproximou do avião, e a auxiliou a tirar o cinto, tirando-a para fora.

Pouco depois chegavam os meus primeiros militares que tinham corrido para tentarem ajudar-nos no que pudessem.
Na reconstituição do acidente lembro-me de que depois dos solavancos provocados por morros de muxame ( formiga branca morta…morros de calcáreo) , que se situavam na parte esquerda do eixo da pista, ainda o avião andou uns tantos metros de “focinho” no chão, para capotar…só não acontecendo esse capotanço (que nos mataria concerteza) porque a velocidade tinha diminuído. A acção do piloto a desligar todos os circuitos do avião e a aguentar o avião com a asa esquerda levantada o máximo que pode, também nos salvou a vida.

Funchal aos 21 de Novembro de 2006-11-20

Eduardo A. M. Paulino
Ex-Cap. Milº d’Artª

6 comentários:

Anónimo disse...

Nota 1

Duvido que se trate do mesmo Albuquerque.
O do acidente de Lisboa obteve a licença de Piloto Comercial, multimotores e vôo por instrumentos bem mais tarde.
Fomos contemporâneos nessas andanças.

Saudação especial para o Craveiro. Amigo, instrutor, e "patrão/colega" na ex- ETAPA em Porto Amélia/Pemba.

Luisa Hingá disse...

Também não tenho a certeza, assim que tiver eu coloco aqui a informação.
Este Craveiro é o irmão do Olimpio Craveiro. Se quiser o contacto diga. mande para o meu e-mail que está no perfil.
Um abraço.

Anónimo disse...

Ah, OK. O Joaquim Maria. Tambem conheço.
Contacto tenho atraves do Olimpio, a quem eu me referia no post. Por vezes voava em Tete tambem. Dai a "confusão".
De qualquer modo obrigado.

Luisa Hingá disse...

Tó Coelho já falei com o Quim Maria e não era o Albuquerque. E manda-lhe abraços.

Luisa Hingá disse...

Mensagem de Alfredo Correia, do Grupo Fotos de Moçambicanos e de Moçambique, do Facebook:
-"Luísa Hingá está tudo confirmado quem ia no avião acidentado em Báue eram a minha prima Adelaide Martins Nogueira e seu pai Carlos Martins, portanto meu tio!!"
Dei conhecimento a Eduardo A. M. Paulino.

Unknown disse...

Este acontecimento(há 42 anos)foi para mim uma grande surpresa.... É evidente que gostei de ver as fotos e até o relato do acontecimento.... Mas estou num estado que tudo isto me parece um autentico sonho. Estou muito grata Ao meu amigo Eduardo Paulino ,pois graças a ele ao seu empenho,tudo isto pode acontecer. Estou também muito grata à organização pelo empenho em reunir e contactar e até verificar a veracidade do sucedido. A minha gratidão para Luísa Hingá e Alfredo Correia. Foram uma equipe incansável.