Pensei para mim: o Craveiro (piloto com quem eu viajava normalmente e habitualmente de e para Tete) se calhar faria esta curva de mais longe do princípio da pista! O nosso piloto teve que acelerar, para levantar o nariz e aproximou-se do princípio da pista com velocidade.
Voltei a pensar para mim: tenho a impressão que deveria fazer-se mais ao centro da pista visto ele estar a fazer-se um pouco para a esquerda do meio da pista. Tocou no chão o Islander. Depois de andar uns metros houve um grande solavanco e o avião desequilibrou-se para a direita. O piloto aguentou e corrigiu fazendo o avião baixar de novo com a roda esquerda e ela de novo tocou o chão. E houve um segundo grande solavanco mais forte desta vez. O piloto sentiu, e todos nós os passageiros também, que o trem esquerdo tinha partido e tentou aguentar o avião inclinado para a direita, para diminuir a velocidade, para desligar todos os circuitos , o que fez com grande custo visível, e para que a asa esquerda não batesse logo no chão. Finalmente a asa esquerda raspou o chão, houve uns momentos que todos parece que gritámos com o que estava a acontecer! O avião deu um violento solavanco…finalmente sentimos que estava parado…a porta ao lado do piloto foi aberta e eu, que ia atrás dele, fui o primeiro a sair e a saltar para o chão, da asa, já fora !! Havia grande poeirada … passados alguns poucos minutos todos estávamos fora, menos a rapariga que aos gritos pedia que a tirassem de lá de dentro, pois não conseguia tirar o cinto. Fui eu mesmo quem se aproximou do avião, e a auxiliou a tirar o cinto, tirando-a para fora.
Pouco depois chegavam os meus primeiros militares que tinham corrido para tentarem ajudar-nos no que pudessem.
Na reconstituição do acidente lembro-me de que depois dos solavancos provocados por morros de muxame ( formiga branca morta…morros de calcáreo) , que se situavam na parte esquerda do eixo da pista, ainda o avião andou uns tantos metros de “focinho” no chão, para capotar…só não acontecendo esse capotanço (que nos mataria concerteza) porque a velocidade tinha diminuído. A acção do piloto a desligar todos os circuitos do avião e a aguentar o avião com a asa esquerda levantada o máximo que pode, também nos salvou a vida.
Funchal aos 21 de Novembro de 2006-11-20
Eduardo A. M. Paulino
Ex-Cap. Milº d’Artª
6 comentários:
Nota 1
Duvido que se trate do mesmo Albuquerque.
O do acidente de Lisboa obteve a licença de Piloto Comercial, multimotores e vôo por instrumentos bem mais tarde.
Fomos contemporâneos nessas andanças.
Saudação especial para o Craveiro. Amigo, instrutor, e "patrão/colega" na ex- ETAPA em Porto Amélia/Pemba.
Também não tenho a certeza, assim que tiver eu coloco aqui a informação.
Este Craveiro é o irmão do Olimpio Craveiro. Se quiser o contacto diga. mande para o meu e-mail que está no perfil.
Um abraço.
Ah, OK. O Joaquim Maria. Tambem conheço.
Contacto tenho atraves do Olimpio, a quem eu me referia no post. Por vezes voava em Tete tambem. Dai a "confusão".
De qualquer modo obrigado.
Tó Coelho já falei com o Quim Maria e não era o Albuquerque. E manda-lhe abraços.
Mensagem de Alfredo Correia, do Grupo Fotos de Moçambicanos e de Moçambique, do Facebook:
-"Luísa Hingá está tudo confirmado quem ia no avião acidentado em Báue eram a minha prima Adelaide Martins Nogueira e seu pai Carlos Martins, portanto meu tio!!"
Dei conhecimento a Eduardo A. M. Paulino.
Este acontecimento(há 42 anos)foi para mim uma grande surpresa.... É evidente que gostei de ver as fotos e até o relato do acontecimento.... Mas estou num estado que tudo isto me parece um autentico sonho. Estou muito grata Ao meu amigo Eduardo Paulino ,pois graças a ele ao seu empenho,tudo isto pode acontecer. Estou também muito grata à organização pelo empenho em reunir e contactar e até verificar a veracidade do sucedido. A minha gratidão para Luísa Hingá e Alfredo Correia. Foram uma equipe incansável.
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