Três jovens pilotos portugueses chegaram a Joanesburgo no fim de 1936 e entraram para o Witwatersrand Technical College School of Aviation, para obterem a sua licença de pilotos comerciais.
Foram eles José Maria Pires do Vale, Carlos Borges Delgado e Gabriel Zoio, os pioneiros da DETA. Alunos do Comandante E. M. Donnelly, obtiveram as suas licenças de piloto comercial durante 1937.
Voavam das 6 da manhã às 5 da tarde, muitas vezes em condições de tempo adversas com ventos cruzados fortíssimos e sem qualquer apoio de ajudas rádio à navegação.
Voos de três horas sobre terras inóspitas, pendurados no único motor dos Hornet Moth da DETA.
Uma vez no Chinde, Pires do Vale, foi obrigado a aterrar com um Dragon Rapide cheio de passageiros num improvisado campo de futebol, terminando o feito entre os postes de uma das balizas.
Bons velhos tempos, onde as regras em aviação não eram tão restritas. Conta-se que um dia Pires do Vale se cruzou com alguém na velha Avenida da República em Lourenço Marques, que lhe pareceu familiar, tendo-lhe perguntado se o conhecia de Beira ou Porto Amélia, ao que o desconhecido lhe respondeu prontamente: sou o faroleiro da ilha do Bazaruto! Talvez a história pareça bizarra, mas naqueles tempos era habitual voar-se baixo ao longo da costa e presentear os passageiros com uma volta ao Farol do Bazaruto!
A 15 de Novembro de 1939 Pires do Vale voava de Inhambane para Lourenço Marques quando observou que um navio se afundava ao lado da praia de Zavala. Pode ler o seu nome (África) no costado e de que dum navio tanque se tratava.
Pires do Vale voou com o seu Dragon Rapid sobre a vila de Zavala e atirou uma mensagem que improvisou na rua principal: Sobreviventes e um naufrágio na costa!
A Shell em Lourenço Marques descartou a possibilidade do navio ser um dos seus, mas infelizmente era, tratava-se do novíssimo “Africa Shell”. Tão novo de facto, que a própria Shell em Lourenço Marques ainda não tinha sido informada da sua existência. O navio fora atingido por um navio alemão no canal de Moçambique, o “Graff Spee”, pouco depois afundao igualmente na batalha do Rio da Prata junto a Buenos Aires, na Argentina. Por coincidência, Pires do Vale neste voo transportava o cônsul alemão em Lourenço Marques. No dia seguinte transportou os sobreviventes do “Africa Shell” da praia de Zavala para Lourenço Marques.
Para Pires do Vale, Delgado e Zoio, macacos, javalis e até elefantes, eram obstáculos importantes nas pistas que tinham de usar no interior da Província, principalmente no Norte.
Gabriel Zoio abandonou os aviões em 1944. Borges Delgado passou a ser chefe de tráfego da DETA entre 1943 e 1956, continuando a voar como piloto. Acumulou mais de 9.000 horas de voo antes de se retirar definitivamente,
Pires do Vale acabou a sua carreira como inspector comercial da empresa, contando as suas deliciosas histórias aos muitos clientes, no seu gabinete na Avenida General Machado em Lourenço Marques.
Obrigada Cte. Vilhena pelas fotos e artigo.
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