O Voando em Moçambique é um pequeno tributo à História da Aviação em Moçambique. Grande parte dos seus arquivos desapareceram ou foram destruídos e o que deles resta, permanecem porventura silenciosos nas estantes de muitos dos seus protagonistas. A História é feita por todos aqueles que nela participaram. É a esses que aqui lançamos o nosso apelo, para que nos deixem o seu contributo real, pois de certo possuirão um espólio importante, para que a História dessa Aviação se não perca nos tempos e com ela todos os seus “heróis”. As gerações futuras de certo lhes agradecerão. Muitos desses verdadeiros heróis, ilustres aventureiros desconhecidos, souberam desafiar os perigos de toda a ordem, transportando pessoas e bens de primeira necessidade ou evacuando doentes, em condições meteorológicas adversas, quais “gloriosos malucos das máquinas voadoras”. Há que incentivar todos aqueles que ainda possuam dados e documentos que possam contribuir para que essa História se faça e se não extinga com eles, que os publiquem, ou que os cedam a organizações que para isso estejam vocacionadas. A nossa gratidão a todos aqueles que ao longo dos tempos se atreveram e tiveram a coragem de escrever as suas “estórias” e memórias sobre a sua aviação. Só assim a História da Aviação em Moçambique se fará verdadeiramente, pois nenhum trabalho deste género é suficientemente exaustivo e completo. A todos esses ilustres personagens do nosso passado recente que contra tudo e todos lutaram para que essa história se fizesse, a nossa humilde e sincera homenagem.

A eles dedicamos estas linhas.

José Vilhena e Maria Luísa Hingá

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Quem tiver fotos e/ou documentos sobre a Aviação em Moçambique e os queira ver publicados neste blogue, pode contactar-me pelo e-mail:lhinga@gmail.com

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20/11/06

143-Pilotos Pioneiros e as suas histórias

Três jovens pilotos portugueses chegaram a Joanesburgo no fim de 1936 e entraram para o Witwatersrand Technical College School of Aviation, para obterem a sua licença de pilotos comerciais.

Foram eles José Maria Pires do Vale, Carlos Borges Delgado e Gabriel Zoio, os pioneiros da DETA. Alunos do Comandante E. M. Donnelly, obtiveram as suas licenças de piloto comercial durante 1937.

Voavam das 6 da manhã às 5 da tarde, muitas vezes em condições de tempo adversas com ventos cruzados fortíssimos e sem qualquer apoio de ajudas rádio à navegação.

Voos de três horas sobre terras inóspitas, pendurados no único motor dos Hornet Moth da DETA.

Uma vez no Chinde, Pires do Vale, foi obrigado a aterrar com um Dragon Rapide cheio de passageiros num improvisado campo de futebol, terminando o feito entre os postes de uma das balizas.

Bons velhos tempos, onde as regras em aviação não eram tão restritas. Conta-se que um dia Pires do Vale se cruzou com alguém na velha Avenida da República em Lourenço Marques, que lhe pareceu familiar, tendo-lhe perguntado se o conhecia de Beira ou Porto Amélia, ao que o desconhecido lhe respondeu prontamente: sou o faroleiro da ilha do Bazaruto! Talvez a história pareça bizarra, mas naqueles tempos era habitual voar-se baixo ao longo da costa e presentear os passageiros com uma volta ao Farol do Bazaruto!

A 15 de Novembro de 1939 Pires do Vale voava de Inhambane para Lourenço Marques quando observou que um navio se afundava ao lado da praia de Zavala. Pode ler o seu nome (África) no costado e de que dum navio tanque se tratava.

Pires do Vale voou com o seu Dragon Rapid sobre a vila de Zavala e atirou uma mensagem que improvisou na rua principal: Sobreviventes e um naufrágio na costa!

A Shell em Lourenço Marques descartou a possibilidade do navio ser um dos seus, mas infelizmente era, tratava-se do novíssimo “Africa Shell”. Tão novo de facto, que a própria Shell em Lourenço Marques ainda não tinha sido informada da sua existência. O navio fora atingido por um navio alemão no canal de Moçambique, o “Graff Spee”, pouco depois afundao igualmente na batalha do Rio da Prata junto a Buenos Aires, na Argentina. Por coincidência, Pires do Vale neste voo transportava o cônsul alemão em Lourenço Marques. No dia seguinte transportou os sobreviventes do “Africa Shell” da praia de Zavala para Lourenço Marques.

Para Pires do Vale, Delgado e Zoio, macacos, javalis e até elefantes, eram obstáculos importantes nas pistas que tinham de usar no interior da Província, principalmente no Norte.

Gabriel Zoio abandonou os aviões em 1944. Borges Delgado passou a ser chefe de tráfego da DETA entre 1943 e 1956, continuando a voar como piloto. Acumulou mais de 9.000 horas de voo antes de se retirar definitivamente,

Pires do Vale acabou a sua carreira como inspector comercial da empresa, contando as suas deliciosas histórias aos muitos clientes, no seu gabinete na Avenida General Machado em Lourenço Marques.

Obrigada Cte. Vilhena pelas fotos e artigo.

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