O Voando em Moçambique é um pequeno tributo à História da Aviação em Moçambique. Grande parte dos seus arquivos desapareceram ou foram destruídos e o que deles resta, permanecem porventura silenciosos nas estantes de muitos dos seus protagonistas. A História é feita por todos aqueles que nela participaram. É a esses que aqui lançamos o nosso apelo, para que nos deixem o seu contributo real, pois de certo possuirão um espólio importante, para que a História dessa Aviação se não perca nos tempos e com ela todos os seus “heróis”. As gerações futuras de certo lhes agradecerão. Muitos desses verdadeiros heróis, ilustres aventureiros desconhecidos, souberam desafiar os perigos de toda a ordem, transportando pessoas e bens de primeira necessidade ou evacuando doentes, em condições meteorológicas adversas, quais “gloriosos malucos das máquinas voadoras”. Há que incentivar todos aqueles que ainda possuam dados e documentos que possam contribuir para que essa História se faça e se não extinga com eles, que os publiquem, ou que os cedam a organizações que para isso estejam vocacionadas. A nossa gratidão a todos aqueles que ao longo dos tempos se atreveram e tiveram a coragem de escrever as suas “estórias” e memórias sobre a sua aviação. Só assim a História da Aviação em Moçambique se fará verdadeiramente, pois nenhum trabalho deste género é suficientemente exaustivo e completo. A todos esses ilustres personagens do nosso passado recente que contra tudo e todos lutaram para que essa história se fizesse, a nossa humilde e sincera homenagem.

A eles dedicamos estas linhas.

José Vilhena e Maria Luísa Hingá

========================

Quem tiver fotos e/ou documentos sobre a Aviação em Moçambique e os queira ver publicados neste blogue, pode contactar-me pelo e-mail:lhinga@gmail.com

=======================

Por motivos alheios algumas das imagens não abrem no tamanho original. Nesse caso podem selecionar “abrir imagem num novo separador” ou “Guardar imagem como…”.

01/10/08

500-Cte. João Maria Carregal Ferreira


Foto tirada em Johannesburg

NOME: João Maria Carregal Ferreira
DATA DE NASCIMENTO: 8 de Junho de 1917

1936 - Começou a voar em PLANADORES, tendo recebido instrução dada por um alemão radicado na África do Sul, chamado Herman Winter. Obteve a licença "C" em voo à vela.
Com o regresso de Herman Winter à África do Sul, passou a ser o instrutor dessa modalidade no Grupo de Aviação Desportiva , "Torre do Vale".


1939 - Em Agosto desse ano, foi enviado pela Divisão de Exploração dos Transportes Aéreos (DETA), para a escola de aviação Witwatersrand Flying School para obtenção da Licença de Piloto Comercial. Devido à entrada da África do Sul na II Guerra, teve de regressar a Moçambique porque pelo facto de ser estrangeiro não podia continuar a voar. Tinha passado todas as provas teóricas e práticas necessárias à obtenção da licença, mas pelo facto de não ter completado as 200 horas de voo a solo exigidas, não lhe foi concedida a licença. No entanto foi-lhe averbada a licença Sul Africana de Piloto de Turismo com o "Instrument Rating" e "Night Flying".


1940 - De regresso a Lourenço Marques, completou as 200 horas a solo e após ter prestado provas, foi-lhe concedido o certificado nº 7, pelo Conselho de Aeronáutica de Moçambique em 1 de Junho de 1940.
Em Julho de 1940, juntamente com um seu amigo e colega, Francisco Assis Camilo Teixeira, foram enviados para os Estados Unidos da América, para a Boeing School of Aeronautics para frequentar um curso de "Celestial Navigation".
A Boeing School of Aeronautics era em Oakland, California. Ambos fizeram também um pequeno estágio na fabrica de aviões Lockhead, em Burbank, para se familiarizarem com os aviões Lockheed 14 Super Electra, que a DETA tinha adquirido e que chegaram a Lourenço Marques nos fins de 1940, exactamente quando se encontravam nos E.U.A.


1941 - Regressaram dos E.U.A. a Lourenço Marques no fim de Janeiro de 1941 e em Fevereiro desse mesmo ano iniciou a sua carreira de Piloto de Aviões de Transporte Público.
No fim de 1941, tinha completado um total de 603 horas das quais, 100 horas em duplo comando e 503 horas a solo, em 16 tipos de aviões diferentes, sendo num trimotor, cinco bimotores e 10 monomotores.


1942 - Durante o ano de 1942 completou um total de 480 horas de voo em carreiras regulares e fretamentos quase todas efectuadas no Dragon-Rapid (DH 89 A).


1943 - Neste ano completou 556 horas de voo.
De 12 a 28 de Agosto foi 2º Piloto num avião Lockheed que foi de Lourenço Marques a Luanda , - numa missão com o então Director dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes de Moçambique, Engº Pinto Teixeira, que no regresso trouxe uns engenheiros americanos, especializados em Portos e Caminhos de Ferro. Nessa viagem foram percorridos um total de 9 200 kms.
No dia 11 de Fevereiro de 1943, completou 1 000 horas de voo a solo, completando assim os requisitos para ser promovido a Capitão de Aeronave, visto já ser possuidor da Licença de Navegador, Capitão de Aeronave na designação dada aos actuais "Comandantes".


1944 - No ano de 1944, voou um total de 658 horas em comando, no De Havilland Dragon Rapid e no Junkers JU-52. Neste ano obteve o Certificado e Licença de Mecânico de Areonave na categoria A e C que com o nº 18


1945 - Efectuou nesse ano, 814 horas de voo em serviços comerciais nos seguintes tipos de avião:


De Havilland Dragon Rapid


Junkers JU-52


Lockheed 14 Super Electra


1946 - Foram efectuadas nesse ano 1058 horas de voo, nos mesmos tipos de avião e também a partir do mês de Junho, no DC - 3 (Dakota).


1947 - Foram voadas 800 horas nesse ano.


1948 - Nos finais de Junho de 1948, foi enviado a Inglaterra à Fabrica De Havilland para adaptação ao avião DOVE e levar para Lourenço Marques um dos dois DOVE'S adquiridos pela DETA.
Partiram de Hatfield no dia 25 de Julho no CR-ACJ e chegaram a Lourenço Marques no dia 3 de Agosto. Pernoitaram em Paris - Marselha - Castel Benito - Luxor - Khartoum - Juba - Nairobi - Lumbo - Lourenço Marques.
Nesse ano voou 553 horas.


1949 - Voou 662 horas em comando nesse ano.


1950 - Enviado novamente a Inglaterra donde levou para Moçambique o DOVE CR-ADD. Percorreu 13 016 Km em 48 horas de voo.
O total de horas voadas em 1950 foi de 717.


1951 - Voou nesse ano 553 horas


1952 - Voou nesse ano 675 horas


1953 - Voou nesse ano 731 horas


1954 - Efectuou a última carreira como Piloto profissional no dia 24 de Novembro de 1954 e nesses 11 meses voou 644 horas.


O certificado de Piloto de Aviões de Transporte Público (Passageiros, Correio ou Mercadoria) nº7 emitido a João Maria Carregal Ferreira no dia 1 de Junho de 1940, para os tipos de aparelho a seguir mencionados, foi válido até 20 de Janeiro de 1959:


Monomotores:
Bücker Jungmamn
Tiger Moth
Hornet Moth
Avro Cadet
Puss Moth
Gipsy Moth
Zlin XII
Taylor Cub
Piper Tripacer
Chipmunk
Junkers F -13
Aero Cadet
Miles Hawk


Bimotores:
Dragon Fly
Dragon Rapid
Dove
Lockheed 14 Super Electra
Lockheed 18 Lodestar
Boeing 247 D
DC - 3 Dakota


Trimotores:
Junkers Ju - 52


Pessoas de destaque que foram seus passageiros:
- Prof. Marcello Caetano
- Cardeal Cerejeira
- Marechal Higino Craveiro Lopes
- Princípe Bernardo da Hollanda
- Amália Rodrigues
- Pierre Clusterman (Piloto e Escritor)





Fotos e Curriculum vitae enviados pela filha Maria João a quem estou muito agradecida.

4 comentários:

Ricardo Quintino disse...

Comandante Carregal Ferreira, figura que sempre irradiou muita simpatia no meio beirense, foi meu professor de Navegação Aérea quando ainda era aluno piloto no ACB (1962). Lembro com saudades as suas aulas nocturnas teóricas que deu semanas a fio gratuitamente nas instalações da Associação Comercial da Beira (1961), no Largo do Município.

Na altura, se a memória não me atraiçoa, já era Director da Fábrica de Cervejas da Beira.

Bem haja Sr. Comandante. Presto-lhe aqui a minha homenagem e eterna gratidão. Um abraço para a filha de um GRANDE HOMEM.

Ricardo Quintino

antonio luis duarte disse...

chamo-me Antonio Luís Duarte e trabalhei na fabrica de cervejas no ano de 1958 a 1975, onde conheci o comandante Carregal Ferreira. Era um homem bom. irradiava um simpatia extraordinária. V.oltei a encontrar-me com ele anos mais tarde e Lisboa e vieram-lhe as lágrimas aos olhos ao saber que os antigos colaboraboradores estavam bem

Anónimo disse...

Nasci em Moçambique em 1972 e a minha familia regressou a Portugal em 1975.

Sou afilhado de baptismo do Comandante Carregal Ferreira... os poucos momentos em que tive a oportunidade de estar com ele foram impressionantes. Pois todas as historias que ouvi por intermédio dos meus pais deixaram uima curiosidade e fascinação pela pessoa.

De modo que apresento aqui o meu respeito e admiração...

João Miguel da Costa Neves

Maria-Thereza disse...

Que reconfortante que é ler testemunhos tão simpáticos a respeito do meu Pai!
Bem hajam os que ficaram com boas recordações dele!
Para esses um abraço amigo da filha mais velha,
Terezinha