O Voando em Moçambique é um pequeno tributo à História da Aviação em Moçambique. Grande parte dos seus arquivos desapareceram ou foram destruídos e o que deles resta, permanecem porventura silenciosos nas estantes de muitos dos seus protagonistas. A História é feita por todos aqueles que nela participaram. É a esses que aqui lançamos o nosso apelo, para que nos deixem o seu contributo real, pois de certo possuirão um espólio importante, para que a História dessa Aviação se não perca nos tempos e com ela todos os seus “heróis”. As gerações futuras de certo lhes agradecerão. Muitos desses verdadeiros heróis, ilustres aventureiros desconhecidos, souberam desafiar os perigos de toda a ordem, transportando pessoas e bens de primeira necessidade ou evacuando doentes, em condições meteorológicas adversas, quais “gloriosos malucos das máquinas voadoras”. Há que incentivar todos aqueles que ainda possuam dados e documentos que possam contribuir para que essa História se faça e se não extinga com eles, que os publiquem, ou que os cedam a organizações que para isso estejam vocacionadas. A nossa gratidão a todos aqueles que ao longo dos tempos se atreveram e tiveram a coragem de escrever as suas “estórias” e memórias sobre a sua aviação. Só assim a História da Aviação em Moçambique se fará verdadeiramente, pois nenhum trabalho deste género é suficientemente exaustivo e completo. A todos esses ilustres personagens do nosso passado recente que contra tudo e todos lutaram para que essa história se fizesse, a nossa humilde e sincera homenagem.

A eles dedicamos estas linhas.

José Vilhena e Maria Luísa Hingá

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Quem tiver fotos e/ou documentos sobre a Aviação em Moçambique e os queira ver publicados neste blogue, pode contactar-me pelo e-mail:lhinga@gmail.com

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02/05/11

745-Memórias de um aviador em África



Cte. Loureiro Peixoto e Cte. Vítor Silva

Ao ver uma fotografia do Capitão Loureiro Peixoto aqui publicada, lembrei-me do período de quase um mês (23/06 a 17/07/73) em que com o mecânico Pinto, tripulámos o Dakota do SAC CR-AHB pedido da Secretaria Provincial de Comunicações para o colocar ao serviço das equipas portuguesas de pára-quedismo que participariam no campeonato mundial a realizar em Salisbury nos dias 7, 8 e 9 de Julho/73.

Não sei porque razão foi escolhida a Beira para base dos lançamentos de treino e exibições de grupo. A maioria dos pára-quedistas civis utilizava habitualmente aviões pequenos, normalmente Cessnas. Por isso era importante aproveitar um avião com aquela capacidade para determinados números.

Nesses dias estavam também nesta cidade dois ou três elementos da entidade internacional que ia homologar o campeonato e que tinham logicamente outras competências nesta área. As nossas equipas aproveitaram essa presença para oficializar o “Record” que já aqui referi (salto nocturno de 20.000 pés sem oxigénio). Com essa finalidade fizeram-se também várias tentativas para executar entre outras a maior estrela nacional em queda livre, mas tal não foi conseguido.
Eram três as equipas portuguesas:
  • Aero Clube Universitário de Lisboa (ACUL) constituído por páras militares, com sede em Lisboa e liderado pelo Cap. Avelar de Sousa.
  • Aero Clube de Angola Clube, sendo a maioria dos elementos (alguns femininos) do Aeroclube de Carmona - Uige
  • Aero Clube da Beira, do qual faziam parte o Dion Hamilton, Carmo Jardim, Ferreira da Costa, entre outros.
Havia ainda um grupo de quatro ou cinco GEP’s (Grupos Especiais Pára-quedistas - Milícias negras pára-quedistas) que não participavam no campeonato e foram apenas dar uns saltos de exibição.

No dia 6 de Julho saímos da Beira para Salisbury (Harare). O aeródromo de destino era o Prince Charles localizado a Noroeste da cidade cerca de 15-20 kms, onde havia um simpático motel, cujos bungalows tinham nomes de aves. Achei muita graça; esperava que fossem números (gente do mato). Transportámos os pára-quedas, as meninas pára-quedistas e o Eng.º Walter Caramelo da DETA, também pára-quedista mas que tinha um braço partido e era apenas espectador. Os páras (matchos) chegaram de machimbombo bastante mais tarde.

As equipas portuguesas classificaram-se bastante bem tendo vencido a Suiça.

Houve dois pequenos incidentes: O Hamilton partiu um pé por aterrar no tejadilho dum automóvel que como muitos outros, se encontrava próximo dum alvo.

O outro aconteceu com um GEP que lançámos para exibição mas que quando aterrámos ainda ele pairava praticamente à altitude de lançamento. Não conseguia descer. A altitude da pista era de cerca de 4500 pés e ele pairava por volta dos 6000, umas vezes mais alto, outras mais baixo. Acabou por aterrar a vários Kms do aeródromo. Não conseguiu boleia, pois era uma figura exótica e até temível para qualquer condutor.

É fácil imaginar o que passaria pela cabeça dum automobilista a quem um negro, de fato de voo, com o para-quedas enrolado às costas pedisse boleia. Apareceu, já bem de noite, trazido pelas autoridades

Muitos episódios interessantes foram acontecendo neste mês, mas já vai longa a escrita. A figura castiça do Pinto (mecânico do avião) daria só por si um texto saboroso, mas fica para outra ocasião.

Os elementos confirmáveis pela minha caderneta de voo têm obviamente suporte escrito. Todos os outros são citados de memória pelo que poderei referir involuntariamente algumas imprecisões.

Texto de Vítor Silva

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