O Voando em Moçambique é um pequeno tributo à História da Aviação em Moçambique. Grande parte dos seus arquivos desapareceram ou foram destruídos e o que deles resta, permanecem porventura silenciosos nas estantes de muitos dos seus protagonistas. A História é feita por todos aqueles que nela participaram. É a esses que aqui lançamos o nosso apelo, para que nos deixem o seu contributo real, pois de certo possuirão um espólio importante, para que a História dessa Aviação se não perca nos tempos e com ela todos os seus “heróis”. As gerações futuras de certo lhes agradecerão. Muitos desses verdadeiros heróis, ilustres aventureiros desconhecidos, souberam desafiar os perigos de toda a ordem, transportando pessoas e bens de primeira necessidade ou evacuando doentes, em condições meteorológicas adversas, quais “gloriosos malucos das máquinas voadoras”. Há que incentivar todos aqueles que ainda possuam dados e documentos que possam contribuir para que essa História se faça e se não extinga com eles, que os publiquem, ou que os cedam a organizações que para isso estejam vocacionadas. A nossa gratidão a todos aqueles que ao longo dos tempos se atreveram e tiveram a coragem de escrever as suas “estórias” e memórias sobre a sua aviação. Só assim a História da Aviação em Moçambique se fará verdadeiramente, pois nenhum trabalho deste género é suficientemente exaustivo e completo. A todos esses ilustres personagens do nosso passado recente que contra tudo e todos lutaram para que essa história se fizesse, a nossa humilde e sincera homenagem.

A eles dedicamos estas linhas.

José Vilhena e Maria Luísa Hingá

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Quem tiver fotos e/ou documentos sobre a Aviação em Moçambique e os queira ver publicados neste blogue, pode contactar-me pelo e-mail:lhinga@gmail.com

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11/01/23

930 - Ilídio Sousa Santos

 Ilídio Sousa Santos

Nasceu a 20 de Abril de 1938 em Lourenço Marques, numa casa que ficava na periferia da cidade mais precisamente no fim da Avenida 24 de Julho (zona da Malanga), ponto mais alto da cidade naquela zona conforme nos conta.
Da varanda da sua casa virada para a barreira não havia qualquer obstáculo, daí avistava todo o cais do Gorjão com os seus majestosos guindastes a funcionar, a carvoeira a despejar a granel vagões de carvão proveniente da África do Sul para os porões dos navios acostados no cais e a gare dos caminhos-de-ferro.
Contudo, o que mais o fascinava era o roncar dos motores do hidroavião que fazia a carreira regular entre Madagáscar e Lourenço Marques. O lugar de amaragem ficava precisamente no términus da ponte de cais até ao Língamo, já na zona da Matola. A descolagem era impressionante. A carreira realizava-se duas vezes por semana.
No fim do cais havia um batelão enorme onde acostava a aeronave e os passageiros desembarcavam.
Em 1946 muda-se para uma nova casa na esquina da Rua João de Deus com a Avenida Pinheiro Chagas, bem perto da Casa Fabião do Alto-Maé, mais uma vez na zona alta da cidade.
Normalmente os aviões da DETA passavam à vertical da sua casa, o que o levava a trepar a um cajueiro frondoso no quintal para uma melhor visualização sempre que escutava o roncar dos seus motores. Eram os trimotores Junkers Ju.52 com o seu revestimento em chapa ondulada, os Lockheed e os célebres Dakota.
Lembra-se que depois da segunda grande guerra terminar ter visto uma esquadrilha de Spitfires a sobrevoar a cidade, foi o êxtase.
Na sua família alguns parentes fizeram parte da grande família aeronáutica Moçambicana. O mecânico e sócio fundador do Aero Clube de Moçambique Bartolomeu Baptista Picollo, seu primo e pai do tenente-coronel Eugénio Picollo, piloto, engenheiro de material aeronáutico e ministro no governo de transição da Frelimo.
José Alfredo Trancoso, seu primo, mecânico-radiotelegrafista da DETA e posteriormente piloto e dono da companhia de táxis aéreos SAM - Serviço Aéreo de Moçambique.
O seu pai era serralheiro-mecânico dos CFM e foi a dada altura colocado em Nampula. Isso proporcionou-lhe voar como passageiro para este destino nas férias escolares, voando todos os aviões da frota da DETA à época, Junkers, Lockheed Eletra e Lodestar, DeHavilland Dove e finalmente o turbo hélice Fokker Friendship, um luxo comparado com os demais.
Voou inúmeras vezes com o Comandante Luís Branco e a Assistente de Bordo Branca.
Curiosamente foi o Comandante Branco que foi seu examinador quando obteve a sua licença de Piloto Particular de Aeroplanos nº 464/PPA/235 a 14 de Fevereiro de 1964, na escola do Aero Clube de Moçambique. Foi o primeiro aluno do instrutor de voo António Furtado Mathias, monitor à época e posteriormente diretor da escola do ACM. Iniciou a sua instrução de voo a 1 de Dezembro de 1962, executou o seu voo de navegação obrigatório com o instrutor a 4 de Janeiro de 1963 e foi largado a solo a 20 de Janeiro desse ano.
Frequentou a Escola Comercial Dr. Azevedo e Silva em Lourenço Marques, tendo profissionalmente trabalhado na JAG - Moçambique Lda e como Técnico de Contas e Diretor na empresa Hillman Bros (LM)(Pty) Limited, mais conhecida por Casa Hilman.
Dedicou grande parte do seu tempo ao serviço do Aero Clube de Moçambique, fazendo parte de muitas das suas direções como tesoureiro e vogal do conselho fiscal até 1975. 
Em Matsapa na Swazilandia, eu, o piloto Viegas e um casal amigo

Chipmunk CR-AEK
Dr.Durão, Luis Barros Moura, Elídio Santos, Romy Dr.Orlando Vieira e Guy Pedro.
Songo, 10/1972
Inhaca
Inhambane
Inhambane
Ilídio Santos e Quim Oliveira
Inhambane
Inhambane
Matsapa
Festival Air Pageant em Durban
Numa deslocação ao Festival Aéreo de Durban em Julho de 1967 fiz uma aterragem de emergência na Zululand, junto ao lago Sibay, por exaustão de combustível graças a um desmesurado vento ciclónico de sul (60 nós). Fui recolhido por um africano de nome John Gumed, que simpaticamente me ofereceu a sua habitual residência (a palhota da foto), e lá passei pelas brasas.
No dia seguinte a polícia sul-africana levou-me ao Mseleni Mission Hospital em Mkuze, que por acaso tinha um avião ambulância de asa alta e assim consegui a gasolina necessária para descolar do local onde aterrara para a pista da dita missão. A pista era de terra batida, muito estreita e as asas do Chipmunk passavam em certos sítios a rasar a vegetação lateral.
Outro pormenor foi que tapei o tubo de pitot com a capa e respetiva bandeirinha, depois da aterragem de emergência como mandam as normas, e na descolagem no dia seguinte não me lembrei de a tirar.
Descolagem curta, apliquei travões a fundo, acelerador no máximo, atenção aos arbustos e capim alto em frente. Quando deitei o olho ao velocímetro o malvado marcava zero.
Já nada havia a fazer, caso contrário levaria à minha frente uns malfadados morros de térmitas. Foi meter a segunda posição de flaps e mantê-lo no ar com muita dificuldade até aterrar na pista de Mseleni. Os meus colegas aviadores devem imaginar o que é descolar e aterrarem péssimas condições sem o velocímetro operativo. Valeu-me a experiência e a ajuda do Xicuembo (Deus).
Nessa deslocação a Durban só meu grande amigo Luís Barros Moura (Bezouro) chegou ao destino, pois levava o bimotor Piper Twin Comanche. Eu, o Rui Monteiro e o Jaime Fajardo tivemos que ficar pelo caminho em sítios que nem lembra o diabo.
Não segui para Durban pois o malvado do magneto do Chipmunk não dava o ressalto, não consegui por o motor em marcha e até fiz bolhas nas mãos de tanto dar ao hélice. No regresso de Durban o saudoso Jaime Fajardo e a esposa aterraram em Mseleni e lá conseguimos que o motor desse sinal de vida e lá segui para Lourenço Marques. À minha espera estava um elemento da PIDE pois a família missionária e americana Morgan tinha relações muito intimas com a Frelimo, especialmente o Sr. Morgan que era o piloto do tal avião ambulância.
Um Festival em que não cheguei a participar graças ao São Pedro e aos azares da mecânica…..

Avião Tripacer CR.AFM

Rui Monteiro, Ilídio Santos, Artur Cardoso, Viegas, Marques Pinto e o Amadeu Ferreira.
Artur Cardoso, Ilídio Santos, Isabel Fajardo, Isabel Ramalhinho, Artur Amaral, Victor Nunes, Lello Ramos, Pitu Fajardo, Jaime Fajardo, Marques Pinto, Maria João Fajardo e Luís Barros Moura.

Inauguração da pista do Songo em Cahora Bassa. Pilotos da FAP, aeroclubes e entidades oficiais. O velhote de gravata preta foi o mecânico no 1º voo Lisboa/Lço.Marques.
Ilídio Santos, Luís Barros Moura


Caderneta de voo do instrutor António Mathias
                                                                   Cartão da FAV